Com Lula no encalço e medo de 2022, Bolsonaro erra mão

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral, de abrir inquérito contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por disseminar fake news em relação ao processo eleitoral por urna eletrônica, é um recado claro dos ministros de que “já deu”. Se o impeachment não veio, a inelegibilidade bate a porta.

As guerras de Bolsonaro contra o presidente da Corte, ministro Luis Roberto Barroso, e a urna eletrônica auditável, poderiam ser resumidas a quatro letras: medo – de perder as eleições -, e Lula – ex-presidente que voltou à cena política após ter as condenações anuladas por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Ter medo – que é bem diferente de ser medroso – não é demérito para ninguém. Nos alerta de que algo precisa ser feito. No caso da política, temer adversários é pensar em como derrotá-los, mas com respeito e no voto e, principalmente, sem desacreditar processos e, sem provas, o que é pior.

No caso do ex-presidente Lula (PT), a polarização em muito fomentada pelo próprio Bolsonaro, que alçou o petista a “único” adversário, ignorando uma terceiro e passou a se preocupar demais e esquecer de si próprio. Virou obsessão. E, em nome dessa disputa que, em outras épocas, seria saudável.

Lembro sempre de quando cobria eleições em Campina Grande, e foram várias. Segundo maior colégio eleitoral da Paraíba, e bairrista, que se transforma em duas em período de eleição, torcida organizada, cores, mas ataques às instituições? Nunca presenciei.

O primeiro cargo disputado por Jair Bolsonaro foi em 1988, sendo eleito vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Em 1990, disputou uma cadeira na Câmara Federal e lá ficou por 27 anos até 2018, quando decidiu oficialmente entrar na corrida presidencial. Deixou o PSC e ingressou no PSL.

Nesse meio tempo, o sistema eleitoral brasileiro passou por vários avanços, incluindo a urna eletrônica. Em 2000, todos os eleitores passaram a apertar o “confirma”. Ou seja, dos sete mandatos de deputado federal, seis foram com o uso da urna eletrônica, juntando-se ao de presidente da República em 2018. Então, por que cargas d’água é que, só agora, Bolsonaro decidiu questionar a urna eletrônica?

O “voto contado”, como ele mesmo defende, os eleitores conhecem muito bem o resultado: fraudes, “sumiço” de urnas, recontagem de votos e, com as redes sociais, onde está a maior parte dos seguidores de Bolsonaro, poderemos assistir ao instituto da “má-fé”. Sim, não tenho dúvidas. O “tudo ou nada” ganhou contorno diferenciado.

Não sou favorável ao voto impresso, considero um retrocesso. Deveríamos estar discutindo a implantação do voto pelo celular. Mas, acredito que a discussão é válida. E é até legítima que o presidente da República defende o voto impresso “auditável”. E, sejamos democráticos, caso a PEC passe pelo Congresso. Isso se chama respeito.

O problema é que o tema foi politizado. Não dá para concordar que a coisa seja feita “de bolo”, empurrada goela abaixo por alguém que tenta a todo custo descredenciar, enterrar a história da qual fez e faz parte. Será que estaríamos assistindo a essas verborragias se Lula estivesse preso, por exemplo, não sendo pedra no caminho adversário? Pensem vocês sobre isso.

Volto ao que escrevi no início da análise. O medo de perder as eleições é visível pelas atitudes e discursos constantes do próprio presidente. O que ele não consegue enxergar é que, a cada discurso contra a urna eletrônica e o processo de votação, mais o ex-presidente Lula cresce. Se o petista é inocente, a Justiça é quem tem que dizer.

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