O discurso do ‘tudo pela vida’. Foi o que eu mais ouvi, na terça-feira, assistindo à votação da Proposta de Emenda à Constituição nº 18/2020, que adiou as datas das eleições 2020 de outubro para novembro. Serão 42 dias a mais de campanha que candidatos a prefeitos e vereadores terão para convencer os eleitores. Os políticos, como eu sempre digo, adoram legislar em causa própria. Para isso, esquecem os próprios discursos.

Desde o início da pandemia do novo coronavírus – no Brasil, estamos parados há 100 dias -, que a tese de não só adiar, mas de estender os mandatos dos eleitos em 2016 por mais dois anos e meio vem tomando corpo. Ou seja, em 2022, iríamos às urnas para eleger sete candidatos – de presidente da República a vereador. Com a data do primeiro turno das eleições se aproximando – 04 de outubro, alguns plantonistas do discurso invertido começaram a enxergar uma luz no fim do túnel.

A quem interessa? Para deputados e senadores, mais tempo para apresentar emendas a determinados municípios – se vocês prestarem a atenção, é sempre para os mesmos. ‘Amarrando’ prefeitos e até vereadores como cabos eleitorais. Quanto mais massificar, mais chances de eleição. Os prefeitos também tirariam proveito porque é uma via de mão dupla. E em defesa desses prefeitos, estão as entidades municipalistas. Interesses, meus caros.

Para os prefeitos que não podem ser reeleitos, estes teriam tempo de trabalhar melhor seus indicados já que a pandemia os ‘obrigou’ a direcionar todas as atenções para o combate à Covid-19. E não poderia ser diferente, não é mesmo. É fato que a pré-campanha foi prejudicada, mas por um motivo de saúde pública. Afinal, o gestor precisa cuidar da população que jurou proteger, independente do voto. Pena, que muitos não ajam assim. É a política.

Agora, não estamos pensando nos que decidiram enfrentar a eleição para um primeiro mandato, que vem se preparando há tempos, e que, caso a tese vingasse, teriam que esperar mais dois anos e meio. Essas chances seriam cada vez menores. Também não estamos preocupados com os desmandos de gestores municipais, de vereadores cassados por corrupção, que estão afundando seus municípios em um mar de corrupção. Disso ninguém lembra.

E, por último, e apesar de não ser tão importante, como muitos disseram durante a votação no Senado, está a Constituição que diz que o mandato é de quatro anos e o voto é período. Não quer dizer que as eleições não ser unificadas.

Mas, vocês hão de me dar razão que decidir esse assunto em quatro horas de sessão remota não me parece, nem de longe, razoável. Nesse caso, o eleitor, que é o maior interessado, não seria ouvido. Resumindo, seria um processo muito mais autoritário do que democrático. Vocês não acham? A tese não vingou, mas preocupa certos políticos quererem sempre tirar proveito de momentos de fragilidade.

Os mesmos que defenderam ontem estender os mandatos em “nome da vida” são os mesmos que defendem a retomada da economia, que as pessoas voltem ao trabalho, que o comércio reabra as portas. É justo.

Mas, aglomeração por aglomeração, não será uma eleição que será culpada por mais casos da doença, nem estamos aqui para achismos. Sem falar que por aqui, seja no Brasil ou na Paraíba, as pessoas – há exceções – nunca cumpriram de fato o isolamento social. Muitos, inclusive, estão pagando um preço alto. Infelizmente. Esperamos que todos fiquem bem e meus sentimentos às famílias que perderam seus entes queridos.

Então, políticos, não me venham com discursos momentâneos bonitos. Até acredito, ainda que com o pé atrás, que muitos naquela sessão estavam preocupados de fato com o avanço da doença, mas…

Eu sempre digo que os eleitores precisam colocar na cabeça de que eles é quem detém o poder. Ir naquela urna e apertar o ‘Verde’ dá a vocês o poder de mudar os rumos da política. O problema é que continuamos digitando o mesmo número para no dia seguinte, literalmente, nos maldizermos pela escolha.

Se essas escolhas continuarem erradas, e o pior, sabemos que estão, vivenciaremos um continuísmo eterno. Um círculo vicioso. Óbvio que existem bons políticos, e esses sim precisam ser digitados.

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