ANS investiga Hapvida por “tratamento precoce”

Apesar da não comprovação científica do uso da hidroxicloroquina no combate à Covid-19, a Operadora Hapvida não só se mostrou ser favorável como teria pressionado médicos a prescreverem aos pacientes, o chamado “tratamento precoce”.

A conduta é alvo de investigação por parte da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A Hapvida é a principal operadora de saúde do Nordeste e do Norte e uma das maiores do país.

A denúncia é de médicos que teriam sido demitidos pela Hapvida por não utilizar o medicamento. “Reforço a importância do uso da hidroxicloroquina”. A mensagem foi enviada por um dos coordenadores da operadora, via aplicativo de mensagens a médicos que prestam serviço à empresa.

Em outra mensagem, que mostra a pressão aos profissionais, o coordenador escreveu: “Estamos revisando os prontuários diariamente, estamos vendo que alguns colegas não estão prescrevendo”.

E enfatiza: “A partir de hoje, TODOS os pacientes irão sair com a medicação da hidroxicloroquina (exceto os contraindicados)”, afirmou. No texto, ele ressaltou que o remédio deve ser entregue até mesmo ao paciente que assinar um termo de recusa da medicação, “para caso, no futuro, mude de ideia”.

O mesmo coordenador, em outro momento, afirma que os médicos que não concordarem com a prescrição da hidroxicloroquina podem ser substituídos nos plantões da Hapvida.

As mensagens de WhatsApp às quais a imprensa teve acesso, confirmadas por médicos que prestaram serviços à empresa, ilustram as cobranças relatadas por profissionais do plano de saúde para prescrever hidroxicloroquina em casos de covid-19.

“Eu não queria prescrever hidroxicloroquina a pacientes com a covid-19 porque não é um medicamento aconselhado por entidades de saúde”, conta o médico Mauro à reportagem da BBC, que relata ter sido dispensado pela Hapvida por não concordar com o uso do remédio contra o coronavírus.

A ANS, agência reguladora dos planos de saúde, passou a investigar a Hapvida após relatos de que a empresa supostamente pressionava médicos de diferentes locais, para receitar hidroxicloroquina em casos suspeitos ou confirmados de Covid-19.

Na manhã da última segunda-feira (27), a ANS fez “diligências in loco” em sedes da Hapvida. A agência não detalhou quais os materiais que foram alvos e que serão analisados na investigação.

A ANS começou a investigação contra a Hapvida no final de agosto deste ano. “Há processo apuratório em andamento em virtude de denúncia feita por prestador referente à restrição de liberdade profissional, quanto à prescrição de medicamentos”, explica a agência em comunicado à BBC News Brasil.

Em nota à reportagem, a Hapvida nega que tenha feito pressão para o uso da hidroxicloroquina em seus hospitais e afirma que respeita a autonomia médica. “Além disso, a prescrição de quaisquer medicações sempre foi feita de comum acordo, formalizado entre médico e paciente durante consulta”, diz comunicado da empresa.

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