O “não” a cloroquina de Mandetta e Teich na CPI

O que os depoimentos dos ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta e Nelson Teich, na Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19, têm em comum? A confirmação da defesa do uso cloroquina por Jair Bolsonaro (sem partido). Na terça-feira (04), Mandetta afirmou que o presidente chegou a sugerir a mudança da bula do medicamento para que constasse que poderia ser indicado para o tratamento da Covid-19.

Mandetta falou por mais de sete horas à CPI e disse que alertou Bolsonaro sobre o colapso na saúde e que o presidente teria desprezado as recomendações da ciência.

“Eu estava dentro do Palácio do Planalto quando fui informado, após uma reunião, que era para eu subir para o terceiro andar porque tinha lá uma reunião de vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina, que nunca eu havia conhecido. Quer dizer, ele tinha um assessoramento paralelo”, disse o ex-ministro, demitido em abril de 2020, um mês após ser declarada pandemia, o surto do novo coronavírus.

Ele complementou: “Nesse dia, havia sobre a mesa, por exemplo, um papel não timbrado de um decreto presidencial para que fosse sugerido, daquela reunião, que se mudasse a bula da cloroquina na Anvisa, colocando na bula a indicação de cloroquina para coronavírus. E foi, inclusive, o próprio presidente da Anvisa, Barra Torres, que estava lá, que falou: ‘isso não’ e o ministro Jorge Ramos falou: ‘não, não, isso daqui não é nada da lavra daqui. Isso é uma sugestão.’ Mas é uma sugestão de alguém. Alguém pensou e se deu ao trabalho de botar aquilo num formato de decreto”, revelou o ex-ministro.

Já Nelson Teich, que substituiu Mandetta e passou menos de um mês no cargo, afirmou nesta quarta-feira (05), que sua saída da Pasta ocorreu em decorrência de divergências entre ele e o presidente Bolsonaro sobre adoção do “tratamento precoce” contra o vírus. Teich disse que, sem autonomia e liderança, decidiu deixar o cargo.

Há de se lembrar do decreto presidencial que incluiu novas atividades como essenciais e que pegou Nelson Teich de surpresa, durante uma das muitas entrevistas coletivas que eram concedidas para atualizar a população sobre a situação da pandemia. À comissão no Senado, ele disse que deveria ter havido uma discussão prévia com o Ministério da Saúde.

Teich disse ainda, em questionamento, que considerou a decisão do Conselho Federal de Medicina, sobre uso do “tratamento precoce”, inadequada, por ausência de comprovações científicas. O ex-ministro diz que considera um erro o Brasil ter investido recursos públicos na cloroquina, já que o medicamento não tem comprovação científica contra o coronavírus.

Nesta quinta-feira (06), é aguardado o depoimento do paraibano Marcelo Queiroga que assumiu o Ministério da Saúde no início de março. Terá que responder de que lado está, se da ciência, tendo a vacina como único tratamento possível para a Covid-19, além do uso de máscara e distanciamento social, ou se segue o caminho mal traçado pelo presidente.

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