CPI da Covid-19, do palanque ou da “pizza”? O que vai ser…

Após quase três horas de discussão, e em meio a várias Questões de Ordem, notadamente com o objetivo de atrasar ou impedir o andamento dos trabalhos, a Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19, que vai investigar as ações (ou a falta de) do Governo Federal no combate à pandemia, foi oficialmente instalada por volta das 12h30 desta terça-feira (27).

Primeiro, senadores aliados do Governo do presidente Jair Bolsonaro, a exemplo de Jorginho Melo, Marcos Rogério e Ciro Nogueira, usando de artigos do Regimento Interno da Casa, tentaram fazer com que Jader Barbalho e o “carrasco” (de acordo com bolsonaristas) Renan Calheiros integrassem a comissão.

O senador Otto Alencar, que comandou a sessão de instalação, barrou de cara os pedidos. As tentativas só demonstraram o quando o Governo e aliados temem o desenrolar a comissão, não apenas o desfecho.

Passadas mais de duas horas, começou a votação, entre os membros, para a escolha do presidente e vice da CPI. No páreo, e já dado como certos, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues. Correndo por fora, pela disputa de comando, estava Eduardo Girão que, alinhado ao presidente Bolsonaro, defende que a comissão apure supostas irregularidades, com o uso do dinheiro federal, por governadores e prefeitos.

Ainda teve a participação do senador Flávio Bolsonaro, de tipoia devido a um acidente de quadriciclo no Ceará, defendeu que Renan, cujo filho é governador de Alagoas, se alegasse suspeito. Disse que se fosse ele, filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que estivesse na comissão, os membros já tinham movimentado todo o Senado para tirá-lo, por isso, ele decidiu não participar. Não está de todo errado.

Flávio aproveitou para disparar críticas ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (Democratas), a quem chamou de ingrato, em uma referência clara de que este foi eleito com a ajuda dos governistas. Também o chamou de irresponsável por permitir a instalação de uma CPI, em plena pandemia, cujas sessões vão gerar aglomerações.

Casa de ferreiro, espeto de pau. O presidente Jair Bolsonaro, e não é de hoje, desrespeita todo e qualquer distanciamento social, se recusa a usar máscaras, gera aglomerações e ainda critica governadores e prefeitos pelas medidas restritivas no combate à pandemia.

Girão, antes do início da sessão, chegou a defender uma presidência “compartilhada” com Randolfe Rodrigues. Não adiantou. Omar Aziz e Randolfe foram escolhidos. Ao sentar na Mesa, nova questão de ordem de Ciro Nogueira, também indeferida, o presidente da CPI anunciou Renan Calheiros como relator.

Ainda diante de questionamentos, Omar Aziz afirmou que “ninguém aqui é senador pela metade. É por inteiro. Se um senador, eleito por um estado, não puder integrar uma CPI, então ele não é senador”. E ainda disparou: “Qual é o medo? É da CPI ou do Renan?”. Depois, seguiu-se parabéns e mais parabéns.

O senador Eduardo Braga, presidente nacional do MDB, partido de Renan, apelou para que a Comissão Parlamentar de Inquérito não descambe para um palanque eleitoral, e televisionado, diga-se de passagem. O grande desafio da CPI é esse: garantir uma “isenção”, ainda que me pareça impossível, nas investigações. Ao mesmo, é preciso que se trabalhe para que a comissão não vire “pizza”, o que pode sim, acontecer.

Que comecem os trabalhos…

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