O padre, a prefeita e um Cruzeiro como pivô

Política e religião sempre andaram lado a lado, mas isso não significa que os lados são os mesmos. Não à toa padres, durante as celebrações, dão puxões de orelha nos políticos e no poder público, e estes quase sempre se ajoelham diante do altar “pedindo apoio” a Deus, e aos eleitores, claro.

No Conde, o padre Luciano Gustavo Lustosa da Silva foi preso pela Guarda Municipal e conduzido à Delegacia de Polícia em Alhandra. O pivô: um Cruzeiro que era na cor marrom, foi pintando na cor azul e repintado, pelo padre, na cor original. Por outro lado, a prefeita Márcia Lucena diz que foi “armação política”, e no meio a Guarda Municipal, que responde a prefeita, e que conduziu o padre à delegacia.

O padre Luciano foi preso sob acusação de ter pintado o Cruzeiro sem autorização da Secretaria de Obras do município. Já o padre alega que o Cruzeiro pertence à Igreja e acusou a prefeita de ser comunista. “A gente fica de boca aberta, diante dos desmandos e do autoritarismo”, disparou o sacerdote, que tem postura conservadora.

Primeiro, há de se perguntar se a Guarda Municipal do Conde teria “poder de polícia” para conduzir o padre à delegacia. A LEI Nº 894/2016, assinada pela prefeita Márcia Lucena (PSB), e que instituiu o Código de Conduta da GM, diz que sim.

No Artigo 3º, diz que é competência da Guarda “…I – zelar pelos bens, equipamentos e prédios públicos do Município; II – prevenir e inibir, pela presença e vigilância, bem como coibir, infrações penais ou administrativas e atos infracionais que atentem contra os bens, serviços e instalações municipais…”.

Também diz que é competência da Guarda Municipal “…XIV – encaminhar ao delegado de polícia, diante de flagrante delito, o autor da infração, preservando o local do crime, quando possível e sempre que necessário…”.

O delegado de Polícia Civil de Alhandra explicou neste sábado (03), em vídeo publicado pelo Portal ClickPB, que, ao receber o Padre Luciano, constatou que o mesmo não havia desobedecido ordem da Secretaria de Obras, e que o Cruzeiro pertencia à Paróquia. Disse ainda que o sacerdote não responderá a nenhum procedimento penal.

Em vídeo postado nas redes sociais, a prefeita do Conde, Márcia Lucena, chamou de “circo armado” o episódio do Cruzeiro e afirmou que não mandou prender o padre. “Nem mandei, nem mandaria. Mas, vou cobrar explicações do comandante da Guarda Municipal sobre o ocorrido. Tudo será esclarecido”.

O fato é que a Guarda Municipal é subordinada a Prefeitura. E, a prisão de um padre há de se convir não pode ser tratado como infração comum, até pelo papel de liderança que exerce junto aos fiéis da cidade. O fato é que alguém mandou prender. Segundo o delegado, teria sido por determinado do comandante da Guarda Municipal, Sérgio Carneiro.

Antes de o padre ser conduzido para a Delegacia, Márcia Lucena, que é candidata à reeleição nas eleições municipais deste ano, chegou a publicar nota nas redes sociais discordando da mudança da cor.

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