A vereadora Ivonete Ludgério, ao se dar o direito de faltar a duas sessões na Câmara de Campina Grande, para cuidar do casamento do filho, não surpreende. Viralizou porque mostra um retrato da política e de políticos – há exceções – que pouco estão preocupados com o trabalho para o qual são muito bem pagos para fazer.
Ouvi de um político, bastante conhecido, que “vereador, depois do prefeito, é o que mais sofre”. Na Paraíba, no caso de vereadores, e quiçá de alguns prefeitos, certamente é que não é.
Vejamos: os parlamentares “mirins” são eleitos para quatro anos de mandato, com salário fixo, e sem atrasos, o que já é muita coisa diante da realidade que alguns servidores públicos municipais enfrentam. E ainda férias duas vezes ao ano.
E mais: em algumas Câmaras, as sessões acontecem apenas uma vez na semana. Ou seja, o que fazem nos outros dias. E não tentem convencer com essa história de “visita a eleitores ou bases”. A partir do próximo ano, talvez, já que teremos campanha eleitoral.
Vereadores “caras-lisa” não faltam por aqui e pelo Brasil. Sem falar que podem falar o que querem na tribuna e não ousem interrompê-los ou questioná-los.
Falar que vai faltar para cuidar de vida pessoal, ou se reunir em pleno domingo para aprovar pagamento de tratamento de saúde do prefeito, quando este pode pagar, e seus funcionários não. E até subir à tribuna para dizer que mulher tem que “segurar” suas vontades para não engravidar e, depois, querer abortar. Tem aqueles que criaram um recesso para participar de novena.
E está tudo bem? Não está. Não é sobre ter direito, é sobre deveres. Não vai impedir que aconteçam situações exdrúxulas como essa e outras, mas é preciso mudar conceitos e atitudes. Ficam as lições.
Ivonete acusou jornalistas de usarem sua fala para denegri-la. E não, a questão não é porque a mesma é mulher, ou porque a repercussão da fala, na visão da parlamentar, foi um desrespeito à família. É pelo simples fato de que, apesar de não ser ilegal (mas, deveria), é imoral, não importando o gênero.
Sem dois pesos e duas medidas, importante estar atento a isso. Não dá para normalizar o “imoral”, independente de sexo, religião, gênero ou ideologia política. É de se condenar o uso politiqueiro porque quem tem telhado de vidro não atira pedra no dos outros.
Ao final, Ivonete Ludgério afirmou ter conseguido reagendar os compromissos e participou da sessão dessa quarta-feira (25).
É preciso se fazer uma reflexão sobre qual é o papel dos vereadores e sobre como fiscalizar essas Casas legislativas.
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