Vazamento “consentido” à sombra da CPI da Pandemia

A conversa gravada, e “vazada” pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania), com o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), continua rendendo. Aliás, é de se perguntar o porquê de se gravar uma conversa, de um tema no qual você está inserido diretamente, e depois divulgar o teor, em mais, com o aval do “gravado”.

Nesse caso, o senador parece padecer de falta de senso tentando ludibriar a opinião pública. O teor deixa claro um discurso já repetitivo do presidente Bolsonaro, que tenta se livrar da má gestão na pandemia imputando a culpa aos governadores e prefeitos por imporem medidas restritivas, e que têm salvo vidas, e, ao mesmo tempo, tenta agradar também ao “chefe”.

O teor do diálogo parece até enredo de filme já pré-roteirizado, à espera da atuação de cada protagonista. Nesta segunda-feira (12), o parlamentar divulgou novo trecho do áudio sobre a CPI da Pandemia. Nele, Bolsonaro xinga o senador oposicionista Randolfe Rodrigues (Rede) e ameaça agredi-lo.

Randolfe foi autor do requerimento para instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito) a fim de apurar eventuais omissões do governo federal no combate à pandemia da Covid-19. Em uma rede social, o senador afirmou que não se intimidará com a ameaça de Bolsonaro e que a “violência costuma ser uma saída para os covardes que têm muito a esconder”.

Ontem (11), Kajuru divulgou um primeiro trecho da conversa que teve por telefone com o presidente, e que foi gravada pelo senador. Ele afirmou que avisou Bolsonaro sobre a gravação antes de divulgar o áudio e que o presidente não teria se oposto.

Na conversa, Bolsonaro cobra do senador que a CPI da Covid só vai investigar o governo federal, e não, governadores e prefeitos. E diz temer que o relatório da comissão seja – nas palavras de Bolsonaro – “sacana”. Já há um requerimento neste sentido em tramitação no Senado.

O presidente diz que o senador tem de “fazer do limão uma limonada”. Kajuru responde que vai se “esforçar”. No segundo trecho do diálogo, Kajuru diz ao presidente que não participará da CPI caso a apuração seja “revanchista”.

Ele foi um autores do pedido encaminhado ao Supremo Tribunal Federal para que a comissão fosse instalada. Na última sexta-feira (09), o ministro Luiz Roberto Barroso, em decisão monocrática, mandou o Senado instalar a CPI. A decisão será julgada pelo plenário da Corte na próxima quarta-feira (14).

Bolsonaro, então, falou: “Mas se você não participa, daí a canalhada lá do Randolfe Rodrigues vai participar. E vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desse”. Até mesmo aliados afirmam que a CPI da Pandemia deixou não só o Palácio do Planalto em alerta, mas o próprio presidente da República, que teme ser mais uma vez exposto pelas (não) ações de combate à Covid-19.

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