Mexeu com Flávio José, mexeu com todos

Não sou especialista da área cultural, mas sou forrozeira, que não pode ver uma zabumba tocando ou um sertanejo na rádio. Por isso mesmo, abro aqui uma reflexão: será que um pedido de desculpas é o suficiente para o que aconteceu com Flávio José, no Maior São João do Mundo?

Com a palavra o cantor, uma das maiores referências do autêntico forró raiz nordestino, conhecido Brasil e mundo afora, o Maior São João do Mundo – que é patrimônio cultural – e os que prestigiam a festa ano a ano.

Aqui não falo em condenar o ritmo sertanejo, falo em equidade e espaços e, acima de tudo, respeito. Se a questão é econômica, também é válido afirma que, partir do momento em que se contrata um artista, há de se respeitar a palavra, caso não conheça a história.

Mas, quem não conhece Flávio José? Talvez parte da nova geração, quem sabe, que cresceu com novos ritmos de forró, do universitário ao sertanejo. Esses ritmos parecem talvez mais atrativos monetariamente. Também não critico porque a questão não é apenas essa.

A empresa cearense, que venceu a licitação da Prefeitura de Campina Grande, tinha a obrigação de saber quem são nossos artistas. Assim como estudaram as referências para a cenografia, certamente, estudaram as referências musicais. Ou não?

O ‘Maior São João do Mundo’ chegou aos 40 anos. Apesar de a festa estar linda, decorativamente falando, poderia passar sem polêmicas envolvendo tradições como a venda de bebidas tradicionais presentes em todas as edições e, para “coroar”, a abordagem a Flávio José. Que poderia ter sido outro artista.

O cantor desabafou ao subir no palco, e com razão. E isso nada tem a ver com Gustavo Lima em si, que um dia antes disse ao prefeito Bruno Cunha Lima que gostaria de tocar duas horas e meia. A empresa acatou e, claro, com o tempo da festa contado, teria que sobrar para alguém. Mas, não tinha que ser assim.

No desabafo, Flávio José pediu desculpas à plateia: “Me sinto na obrigação de comunicar a vocês que, ao chegar aqui, disseram que eu só poderia cantar uma hora e dez. Então, se ficar alguma música do repertório que vocês estão pensando em ouvir – e não vão ouvir – a culpa não é minha. Não tenho nenhum show pra sair daqui correndo pra fazer”.

Ele continuou: “Não foi ideia minha, infelizmente são essas coisas que os artistas da música nordestina sofrem: ‘Não precisa cantar uma hora e meia, não! Uma hora tá bom!’. Vamos nos ‘virar nos trinta’ pra ver se a gente atende vocês”.

O que se viu depois foi uma sequência de erros. Em postagem nas redes sociais, o prefeito afirmou que não havia o que fazer, a não ser se solidarizar, assim como o fez o perfil da Prefeitura de Campina Grande. Por último, e já tardiamente, a empresa cearense pediu desculpas.

Em menos de 24 horas, o assunto foi parar nos TTs do Twitter, sem falar nas críticas de artistas que integram o autêntico forró raiz e da classe política do estado. Gestão de crise, passou longe.

É de se esperar que, para as próximas edições, Prefeitura e empresa ganhadora – seja ela qual for -, valorizem o que temos de melhor: nossas referências. Há espaços para todos. Mas, a valorização ao que é nosso, não pode ser relegado a segundo plano.

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